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Simbiose entre Arquitetura e Natureza


Maquete Eletrônica da Casa da Cascata | Foto Pixabay

Pairando sobre uma cascata na Pensilvânia, num diálogo harmonioso entre natureza e arquitetura, Frank Lloyd Wright aos 67 anos, entre 1935-1939, concebeu a Casa Kaufmann, conhecida como “Casa da Cascata”.

Obra residencial projetada como casa de final de semana e veraneio para a família do empresário Edgar J. Kaufmann, de Pittsburgh. Erguida parcialmente sobre uma pequena queda de água ativa que corre por baixo da casa, serviu-se dos elementos naturais ali presentes para sua composição arquitetônica: pedras, vegetação e a própria água. A procura da integração total com a natureza é notória nos materiais ali usados.

Obra magnífica que repousa sobre a dureza da rocha e a fluidez da cascata, envolvida pela beleza da floresta é uma verdadeira sinfonia da arquitetura. Lá a tranquilidade do campo faz o homem alcançar a sua mais profunda relação com à natureza.

Varandas e terraços suspensos sobre o riacho, materialidade em pedras, concreto e madeira executados com qualidade formam este legado para a humanidade, num ponto mais elevado da colina.

Wright manifestava cuidadoso conhecimento e respeito pelos materiais naturais, permitindo que as massas de pedra se tornassem a característica do edifício. Considerava a madeira como o material mais amado, universalmente bela, era agradável ao toque e à vista.

Um dos mais expoentes arquitetos do século XX, Frank Lloyd Wright era apaixonado pela natureza, pois acreditava que ela trazia bem-estar pessoal, físico e até mesmo espiritual, fazendo o homem com ela crescer e evoluir.

Wright se referia à natureza com “N” maiúsculo, tal qual se escreve Deus com “D” maiúsculo, pois declarava que “A Natureza é todo corpo de Deus que alguma vez conheceremos.” Sua arquitetura experimentava a paisagem com alegria e beleza natural, um verdadeiro design ambiental, ou seja, o planejamento paisagístico com respeito e simbiose pelo planeta Terra.

Este ícone do movimento moderno, também conhecido como o mais importante arquiteto norte-americano, nos trouxe soluções sob a forma de arquitetura, revelando como viver em harmonia com o meio ambiente, através de um profundo amor pela Natureza e sua beleza intrínseca.

Em seus estudos, o arquiteto revelava sua convicção de que o homem precisava se aproximar da Natureza e que com isso poderia crescer espiritualmente.

Com um lápis na mão, Wright concebeu edifícios eloquentes que mudaram a face da arquitetura mundial. Chamava seus edifícios de “arquitetura orgânica”, na qual todas as partes se relacionavam com o todo, com continuidade e integridade.

Mas, principalmente porque em qualquer tempo, a arquitetura orgânica seria adequada tanto ao local, quanto ao homem. Desde a beleza escultural do Museu Guggenheim com seus fluxos de espaços fluidos até a Fallingwater envolvida por águas em movimento, sua obra nos revela um magnífico concerto entre Natureza e a plasticidade da Arquitetura.

Além disso, em sua mente criativa ele trazia um importante conceito que prevalecia em todas as suas obras arquitetônicas: os valores humanos. Neste sentido, ele nos ensina que nas habitações, centros cívicos, fábricas, catedrais, escolas e toda e qualquer edificação, sempre o homem deveria ser colocado no centro.

Possuidor de uma vasta produção literária em arquitetura, educação e filosofia, o arquiteto foi autor de 20 livros, escrevia muitos artigos e também era um palestrante muito popular nos Estados Unidos.

Em seu último livro chamado "Um Testemunho" (1957), Frank Lloyd Wright escreveu o último capítulo intitulado – Humanidade, A Luz do Mundo – onde referia-se a uma arquitetura mais humana. Para ele a luz interior do ser humano poderia ser chamada de humanidade, e este Homem enquanto luz, está muito além de qualquer cálculo ou mensuração.

Buda era conhecido como a luz da Ásia, Jesus como a luz do mundo, sob esta conotação Wright considerava que a luz interior está para o espírito do homem, o Homem-luz, assim como a luz do sol está para a Natureza.

“O Homem-luz está acima do instinto. A imaginação humana nasce, concebe e cria através desta luz. (...) O espírito é iluminado por ela ao ponto de a sua vida ser esta luz e continua a partir dele, e por sua vez ilumina a sua espécie. Afirmações desta luz na vida e obra humana são a verdadeira felicidade do homem.” Wright, F. L. Um Testemunho, Nova Iorque, NI, 1957.

Wright considerava que o esplendor da Natureza Humana, esta luz interior, era algo de mais elevado na consciência da humanidade, sendo a beleza o próprio brilho da luz do homem, luz esta inextinguível da alma.

“Tal como a luz cai sobre um impotente objeto, revelando a sua forma e aspecto, também uma luz correspondente, da qual o sol é um símbolo, brilha a partir do trabalho inspirado da humanidade. Esta luz interior é a certeza de que a Arquitetura, a Arte e a Religião do homem, são como uma só – seus emblemas simbólicos.” Wright, F. L. Um Testemunho, Nova Iorque, NI, 1957.

Este livro é um importante testemunho do autor, que em sua fase final da vida revela um conhecimento profundo adquirido ao longo dos anos projetando arquitetura:

“Não há elemento mais precioso de imortalidade do que a humanidade e portanto o humano. O céu poderá ser o símbolo desta luz das luzes na medida em que o céu é um porto de abrigo.” Wright, F. L. Um Testemunho, Nova Iorque, NI, 1957.

Em suma, Wright acreditava que a arquitetura não era só uma questão de habilidade técnica e criatividade projetual, mas além de ser funcional e estética, deveria transmitir felicidade ao homem, ou seja, deveria nascer para atender às necessidades das pessoas como um organismo vivo, em perfeita integração com a Natureza.

Neste sentido, a Casa da Cascata, é uma verdadeira simbiose entre a arquitetura e o meio ambiente natural, é uma obra que vai muito além de sua composição formal, onde a presença física e espiritual do homem se faz mais cristalina, em sincronismo com a relação harmônica entre Arquitetura e Natureza.

Curiosidades

Hoje a casa é um Museu, que em 1964, foi aberta ao público e nomeada pelo AIA (Instituto Americano de Arquitetos) como o melhor trabalho de todos os tempos da Arquitetura Americana.


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